[Dúvida do leitor] Investir em ETF ou montar uma Carteira Individual?

Recebi uma dúvida do leitor Pedro e achei interessante compartilhar aqui no blog.
Quem quiser comentar, sugerir algo a ele também, fiquem à vontade. Além disso, qualquer crítica quanto a minha resposta será bem-vinda! Estamos todos aqui para aprender.

Segue o e-mail:

"Caro Investidor Defensivo,

Descobri o seu blog através de um comentário que você postou no blog Além da Poupança, num post sobre a polêmica ETFs versus ações diretamente. O que me chamou atenção no seu comentário foi que você disse que não faz uma análise extremamente profunda, mas que vai escolhendo suas ações olhando comentários em blog, lendo relatórios, etc. Estou montando minha carteira agora e, na parte de renda variável minha grande dúvida é se invisto em ETF ou monto ma carteira de ações. Atualmente, não sei fazer análise fundamentalista, só que também não queria investir em ETF por conta dos impostos e também porque em muitos anos o índice tem tido um rendimento pífio. Eu leio alguns relatórios da Empiricus, loja que vende relatórios de análise de ações, não sei se você conhece. Acho que com as recomendações deles, acrescido de uma olhada em umas carteiras nos melhores blogs e indicações daria para fazer uma carteira razoável. E eu poderia ir comparando as indicações e ver aqueles papeis que parecem ser consenso. Pesaria os argumentos, veria se os blogs em questão têm demonstrado bons resultados na prática. Enquanto isso, começaria a ler sobre análise fundamentalista. A perspectiva favorável a essa posição é: eu montaria uma carteira baseado na visão de pessoas que têm um bom conhecimento de ações. Mesmo que eu aprenda análise fundamentalista, no início ainda não vou estar no mesmo nível dessas pessoas. O ponto negativo é que não vou saber quando mexer na carteira, quando algum papel escolhido se revelar sem bons fundamentos e saber a hora de vendê-lo. Vi no seu blog que você começou a montar sua carteira olhando as small caps mais líquidas, sem fazer nenhum tipo de análise mais profunda.
Enfim, o que você sugeriria para mim?

Um abraço e desculpe pelo e-mail um pouco longo."

---

Minha resposta:

Irei comentar cada parte da mensagem para facilitar a resposta:

"O que me chamou atenção no seu comentário foi que você disse que não faz uma análise extremamente profunda, mas que vai escolhendo suas ações olhando comentários em blog,lendo relatórios, etc."

Realmente não faço uma análise profunda. Leio blogs, notícias, relatórios, quadro de ações do bastter etc. Tento escolher empresas saudáveis, as que dão lucro, como o Bastter tanto fala.



"Atualmente, não sei fazer análise fundamentalista, só que também não queria investir em ETF por conta dos impostos e também porque em muitos anos o índice tem tido um rendimento pífio."

Eu também não tenho um bom conhecimento em análise fundamentalista.
Optei por carteira individual para evitar os impostos sobre os ETFs (15% sobre qualquer lucro de venda de qualquer valor) e pelas taxas de administração dos fundos. Creio que esta economia ao longo de mais de 15 anos já nos dá uma vantagem razoável sobre os ETFs.
Um exemplo: suponha que um ETF consiga um lucro líquido médio ao ano de 7%.
Retirando o imposto, cai para 5,95% (85% de 7%).
Ou seja, seu lucro real seria 1% a menos ao ano aproximadamente. Este 1% ao ano a longo prazo dá uma ganho considerável. 1% elevado a 20 anos (fórmula no excel: =1,01^20) dá 1,22%.Ou seja, 22% a mais.
Isto considerando apenas o imposto. Se considerarmos as taxas de administração, este número ainda melhora um pouco mais para o nosso lado.


"também porque em muitos anos o índice tem tido um rendimento pífio"

Esta parte não concordo com você.
Veja o quadro da taxa média de rendimento bruto do Índice Ibovespa.

Marquei de vermelho alguns intervalos de 10 anos:

De 1994 até 2004: Linha 2004 e Coluna 1994: 19,7%
De 1995 até 2005: Linha 2005 e Coluna 1995: 22,8%
e por aí vai...



Não é tão ruim. Então acho que se algum investidor desejar ter um rendimento razoável,com baixo esforço, é possível pelos ETFs.
Sempre lembrando que rentabilidade passada não é garantia de rendimento futuro.


"Eu leio alguns relatórios da Empiricus, loja que vende relatórios de análise de ações, não sei se você conhece. Acho que com as recomendações deles, acrescido de uma olhada em umas carteiras nos melhores blogs e indicações daria para fazer uma carteira razoável. E eu poderia ir comparando as indicações e ver aqueles papeis que parecem ser consenso.
Pesaria os argumentos, veria se os blogs em questão têm demonstrado bons resultados na prática. Enquanto isso, começaria a ler sobre análise fundamentalista.
A perspectiva favorável a essa posição é: eu montaria uma carteira baseado na visão de pessoas que têm um bom conhecimento de ações. Mesmo que eu aprenda análise fundamentalista, no início ainda não vou estar no mesmo nível dessas pessoas."

Já ouvi falar vagamente na Empiricus, nunca li seus relatórios. E muito provável nunca irei comprar relatórios de nenhum analista.
Eu também acho que pesquisar indicações e combinar um pouco de análise própria,saber pelo menos um pouco de análise fundamentalista, escolher empresas que dão lucro e preferências pessoais (eu não compraria a lucrativa Souza Cruz,por exemplo), é possível montar uma carteira razoável. É isto que estou tentando fazer.


"O ponto negativo é que não vou saber quando mexer na carteira, quando algum papel escolhido se revelar sem bons fundamentos e saber a hora de vendê-lo."
Não é tão complicado saber quando mexer na carteira.Se você tiver uma carteira onde você definiu o peso de cada ação, basta seguir esta meta.
Eu também não sei até o momento prever se a empresa perdeu os bons fundamentos. Escolho as que estão mostrando lucro ao longo dos anos. Agora, se ela começar a piorar, ou espera um pouco ou a vende e compra outra. Em uma carteira bem diversificada tem essa vantagem. Se o papel cair 50%, não irá causar um forte impacto em uma carteira que tiver 20 ações por exemplo.



Vi no seu blog que você começou a montar sua carteira olhando as small caps mais líquidas, sem fazer nenhum tipo de análise mais profunda.
Enfim, o que você sugeriria para mim?"

Carteira com as small caps mais líquidas foi uma das diversas estratégias que utilizei. Já tive Tesouro Direto + PIBB11, Tesouro + PIBB11 + SMALL11, ELÉTRICAS+FIIS+SMALL...
Agora estou com uma carteira tentando balancear entre empresas de crescimento e empresas de dividendos.
Muitos blogueiros e leitores já me criticaram meu giro de patrimônio. Não tiro a razão deles. Mas não me arrependo. Hoje estou tranquilo com a carteira.


Vou te passar 2 sugestões:
1- Montar uma carteira própria.
Esta é que eu utilizo. Montar sua própria carteira, com 10 a 30 ações que é o recomendado por Graham no livro Investidor Inteligente para um investidor de perfil defensivo.
Eu pretendo ter 20 ações. Isto dá 5% de peso responsabilidade na rentabilidade da carteira por cada ação. 10 ações acho pouco, 10% é um peso muito alto para
uma ação que escolhemos sem uma análise profunda. Uma diversificação maior é para nos proteger da nossa ignorância.
Diversifique entre crescimento e dividendos e em diversos setores do mercado.


2-Replicar um índice.
Você pode comprar os 20 papéis de maior participação de um dos índices (IBrX-50, Ibovespa ou outros).
Isto de insenta do trabalho e responsabilidade de escolher as ações. Mas pelo menos dê uma analisada, para tirar umas "frutas podres" da cesta, OGXs da vida, por exemplo.

Dê uma olhada nos índices desta página:
http://www.bmfbovespa.com.br/indices/BuscarIndices.aspx?idioma=pt-br
É claro que a replicação do índice não será perfeita, mas acredito que a rentabilidade de seu índice irá se comportar de forma aproximada ao índice original.


Forma de montar as carteiras que serve para as 2 sugestões:
- Compre 1 ação diferente mensalmente. Em 20 meses, sua carteira estará formada.
- Após isto, balanceie a carteira. A cada mês venda parte da ação que está com maior peso na carteira e compre a de menos peso. O objetivo é tentar manter 5% de participação para cada papel.


No mais, é isso. Lembre-se que são apenas sugestões e não posso garantir nada. Neste momento estou testando o que te passei como sugestão. Na verdade, a essência da sugestão que é a diversificação, nem é minha, é do Benjamin Graham.

Sou um investidor amador e estou no mesmo barco que você e muitos por aí.
Aprendendo com os erros e acertos ao longo desta jornada.


E boa sorte nos investimentos! Abs!

Comentários

  1. Muito Bom.
    É mais ou menos como penso e faço.
    Parabéns.
    José Claudio

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  2. rapaz, não conhecia essa tabela do IBOVESPA, excelente. Que desânimo os últimos anos, hein? A última década deu 8.9% apenas...

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    Respostas
    1. E tem de vários outros índices, vale a pena conferir!
      Deu 8,9% mas o ano não acabou. Pode melhorar....ou piorar!rs
      Depois analise mais de 10 anos...12 anos... 15, por exemplo.

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  3. Acho que a opções são as seguintes:
    A) Cidadão sabe escolher empresas muito bem, tem conhecimentos de contabilidade, valuation e tem um controle sobre as emoções muito maior que a manada, o que o leva a sempre bater o IBOV-> monta sua própria carteira.
    B) Cidadão não sabe escolher bem as empresas, mas sabe identificar um lixo quando vê-> replica a carteira do ibov tirando o que tiver de lixo que só dá preju e tem dívida crescente.
    C) Cidadão não sabe o que está fazendo.
    -> monta uma carteira piloto automático, 50% RF e 50% RV (ETF do IDIV, por exemplo), rebalanceando a cada três meses.
    É necessário ter uma boa dose de honestidade consigo próprio. Será que eu tenho consistentemente batido o IBOV com minha escolha independente de ações? Se não, melhor alterar a estratégia ou ficar no ETF.
    Abraço!

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    Respostas
    1. Concordo e gostei das suas opções.
      Mas faria uma alteração aqui:
      " monta uma carteira piloto automático, 50% RF e 50% RV (ETF do IDIV, por exemplo), rebalanceando a cada três meses."

      Ao invés de usar o tempo para fazer o rebalanceamento, rebalanceria a cada distorção de X% por exemplo.

      Esse ano estou conseguindo ganhar com folga do Ibovespa.
      Vamos ver o ano que vem...

      abs!

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    2. Ao leitor:
      Esquece a Empiricus. Se você tivesse investido na galinha dos ovos de ouro deles (HRT), estaria pobre.

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